sábado, 11 de março de 2017

En La Bodeguita, mojito taller

En La Bodeguita, mojito taller
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Os ares de Cuba chegaram ao mercado de Petrópolis de Natal/RN. O mercado decadente de frutas, hortaliças e legumes, segue a sua tendência de trocar sabores por saberes, como prato principal daquele espaço. Dividindo o espaço com leitores, escritores e livreiros. Sobre as mesas e cadeiras o prato comestível deixa de ser o principal, sai comensal e entra o leitor, para se consumir letras e livros. A cachaça, a cerveja e a aguardente, tendem a serem substituídas por cafés de diferentes sabores; águas aromatizadas e com temperaturas diferentes. O mercado tem a função de social de mostrar e comercializar com o público: os filhos, os frutos e as raízes da terra. Com aromas e cores, saberes e sabores. O bidimensional do papel e o tridimensional do alimento. A Bíblia já dizia que tudo poderia ser provado, exceto um livro, o livro do professor, onde está guardado um segredo.

Continuando uma jornada cultural, iniciada com o que se produz e se consome na terra, o mercado segue o seu caminho. O início de uma cultura que começa no campo, entrando no espaço da cidade com produtos em um mercado. Dos saberes e sabores, criam-se cantos e danças transmitidos por gestos e oralidades. E depois registram-se os conhecimentos em textos e livros, com o medo que a oralidade se perca e seja modificada. Podem ser adulteradas por piratas da cultura. Inserindo e modificando os primitivos comportamentos. Como confundir pensamentos com forrobodó, forró e for all. Natal a cidade aberta, invadida pelos ventos, que trouxeram caravelas pelos mares e aviões pelos ares, com cabeças pensantes embarcadas.

E a comitiva potiguar da feira literária em Havana, voltou para contar suas histórias, trazendo na bagagem sabores da Ilha, com uma oficina de preparação de mojito. A oralidade com ritmos e músicas, contando suas histórias e a sua cultura. Alguns chegaram exibindo suas camisas goiabeiras e chapéus modelo panamá, para mostrar que mergulharam em uma cultura, com o corpo e a cabeça, por onde se hospedaram e por onde passaram. O mojito inebria o corpo e atinge a alma. O manuseio das folhas de hortelã, bem como a obtenção do sumo do limão, exalavam seus aromas por intermédio de um ventilador, próximo a mesa de preparação. Faltaram apenas as imagens, para completar as sensações organolépticas.

Na plateia presente: atores e atrizes do mundo do palco e das ruas. Leitores e escritores, de textos e livros; raízes e nutellas, e até uma gafeira. Novos e idosos; pais, filhos e netos. Alunos e professores com suas comitivas. Todos queriam participar do que aconteceria na caverna do mercado de Petrópolis. Alguns já desejam que os encontros ali, se tornem constantes. Encontros literários e gustativos, que fortaleçam os saberes e os sabores, com trocas de depoimentos e experiências.

E as imagens surgiram em uma tela, como uma linguagem traduzindo a Ilha, para os que não estiveram presentes, participando da comitiva do paquiderme norte-riograndense. Cuba foi mostrada em imagens, pelo ícone da festa. Aluísio que plantou a semente da excursão, fez das imagens na caverna Platão, o seu texto a ser apresentado, mostrando os frutos colhidos da semente plantada.

O mito da caverna de Platão permanece com o uso do data show, fazendo os espectadores imaginarem o que acontece do lado de fora, com luzes e sombras, projetados em uma tela ou parede da caverna. Para encontrar a realidade é preciso estar do lado de fora e viajar para Cuba. O conhecimento é adquirido por viagens, e alguns a conseguem colocar em um texto. Para que tomem conhecimento os que não viajaram.

O mercado segue sua missão cultural de divulgar sabores e saberes. Mas ainda é preciso mudar sua linguagem na porta. Onde ficavam os jumentos amarrados, estão estacionados cavalos com medidas em HP. Impedindo a entrada de pessoas, e pedestres de circularem nas calçadas, os que buscam acesso ao conhecimento e cultura. O grande erro da cidade de/do Natal, em achar que todo lugar é uma bodega, onde se pode amarrar o jumento na porta. Daí então os donos de cavalos em HP, se acham com direito de ocupar as calçadas e as portas de comércios. As motos circulam livremente pelo passeio público, como se estivessem em uma estrebaria, procurando um cocho com água ou ração. Até que encontrem uma rampa de cadeirante, que entendem como saída, para seus cavalos de aço.

RN, 11/03/2017

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