quinta-feira, 9 de março de 2017

O índio mauricinho

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O índio mauricinho
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Certa vez, um índio mauricinho desfilou pelas ruas, calçadas e prédios de Natal e Parnamirim. Chegou de uma tribo distante, perto do limite norte do território brasileiro. Chegou com seus apetrechos e aparelhos tecnológicos, dando um upgrade à sua cultura. Desfilou pelas ruas, trajando bermudão, tênis de marca e meião atlético; e sua T-shirt sempre combinava com algum dos seu cocares, dentre os vários que usava. Desfilou pelas ruas e avenidas, conduzindo um carro tipo buggy defendendo a preservação da floresta amazônica, mas a combustão de seu carro não libera oxigênio, apenas monóxido de carbono. Ensinou o povo da cidade a se pintar como silvícolas, mas com tintas sintéticas e atóxicas, apropriadas e certificadas para uso dermatológico. Não se atreveu a pesquisar corantes em feiras e mercados.


Durante os eventos que foi convidado, o índio estava sempre conectado, falando com seus deuses em outros pontos do planeta, nos confins das florestas. Mas não enviava sinais de fumaça ou batidas em troncos, mas sim com SMS, WZap e com aplicativos messenger. Com o aparelho ligado, sempre seguro com  as mãos, com o deslizar dos dedos sobre a pequena tela, desviando a atenção do que era falado ou proferido em painéis, palestras e entrevistas. Pela rede social mantinha o contato com a tribo, talvez fosse o cacique em uma epopeia, construindo uma história de entronização nas cidades. O índio tinha como seus deuses na academia; Milton Santos, Bertha Becker e Yves Lacoste, se dizia geógrafo em trabalho de campo. Podia ter um lacoste bordado em sua camisa polo.


E um escritor de meia pataca apresentou o índio a sociedade poética da cidade, para exibir suas telas de cores com pincel de marta e betume da judeia. Na casa do escritor, o índio ficou hospedado, pode ter construído uma oca no carpete da sala. Um escritor acostumado com soquetes e cadinhos, construindo uma vida acadêmica de mestrado e doutorado com folhas maceradas, criando uma pasta de celulose e clorofila, defendendo ideias, com monografias, dissertações e teses, no estilo literário do conhecimento científico.


O índio e o escritor sertanista, seguem suas carreiras acadêmicas em busca de conhecimentos com  reconhecimentos e títulos, até que possam obter títulos e reconhecimentos dos mestres e doutores, pairados sobre suas mentes, dentro do meio acadêmico, dominado por um grupo. Dos que se dizem ser os dominadores, conhecedores e produtores do conhecimento, depois de observar o empírico, para transformar em científico. Daí então, apropriam-se do conhecimento do povo, registrando e tabulando em artigos e livros. E sem perceber que a ciência se torna sua nova religião, apontando resultados baseados no passado, que confiam e possuem uma fé, de acontecer no futuro, repetindo os fatos. O que não acontecer no futuro calculado, fica em stand by, já que não era esperado, ficam aguardando novos acontecimentos, até que outros fenômenos aconteçam. E possam novamente ser estudados, criando novas teorias e teses. A chegada da boa nova, e a volta de um novo mestre.


Em 09/03/2017


O índio mauricinho
PDF 871
por
Roberto Cardoso Maracajá
RM & KRM


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